O
tempo passa por nós de uma forma que nem sempre dá para perceber. As coisas
mudam o tempo todo, mas nem sempre a gente consegue ver e sentir. Quer um
exemplo, a pouco mais de 200 anos era totalmente normal ter um escravo em casa
ou na fazenda. Eles executavam todas as vontades do branco endinheirado (mesmo
que à base de chicotadas no lombo) e produziam a riqueza que outros desfrutam
até hoje.
Até
pessoas aparentemente boas e normais não conseguiam ver que ter um escravo era, e continua sendo, o cúmulo do absurdo da indignidade humana. E todo
escravocrata, todo, sem exceção, deveria ser jogado ao mar ou trancado em
um cela com o Capitão Jair e ser obrigado a ouvi-lo contar suas piadas racistas,
machistas e homofóbicas (se bem que isso já seria crueldade demais, melhor
ser jogado ao mar mesmo, aquele de Recife que tem tubarão, é menos cruel).
Hoje
em dia ninguém acha normal manter uma escrava ou um escravo em casa, nem para
lavar a louça, nem para cuidar de seus filhos e nem dar de mamar a eles e
depois, no fim da noite, ainda ser estuprada, se fosse mulher ou ter de
realizar as fantasias mais chocantes da patroa, se fosse homem.
Eu
não consigo nem imaginar como deveria ser humilhante ser escravo e não me
imagino convivendo com um escravocrata (eu mesmo prefiro ser jogado ao mar de Recife a
ter que apertar a mão de um escravocrata ou ter que olhar na cara de um ser tão
desprezível).
Acredito
que hoje em dia, nem as pessoas mais asquerosas, mais esnobes e almofadinhas,
como Dória, Sérgio Moro, vulgo Marreco de Maringá, que tem cara de que odeia
pobres, conseguiriam ter um escravo.
A
maioria dos empresários brasileiros são ridículos, mamam nas tetas do estado
através de benefícios fiscais, sonegação e maracutaias, não recolhem impostos de renda,
pagam mal aos assalariados, defendem que o salário mínimo é muito alto e que
deveria baixar (por isso apoiam o presidente militar). Esses empresários acreditam
que os trabalhadores têm direitos demais e querem cortar toda e qualquer forma
de proteção social. E a esse golpe covarde chamam de reforma modernizante.
O
empresariado brasileiro deseja as mesmas normas fiscais e trabalhistas dos
Estados Unidos e ao mesmo tempo continuam pagando os piores salários do mundo. Acreditam (ou falam só para enganar idiotas) que os motoboys, que entregam lanche se
arriscando no trânsito ou que os motoristas de Uber, são empreendedores. E
foda-se se os empreendedores não conseguem manter uma vida digna: com alimentação adequada, saúde, escola e lazer. Foda-se se o
motoboy sofrer um acidente e o deixar inválido ou se sua filha ficar
órfã, afinal de contas, o lucro, na cabeça destes empresários que odeiam
imposto, deve ser privado, mas as despesas devem ser do SUS, devem ser do
estado que eles odeiam. Mamam no estado, mas odeia o estado.
O
estado, para existir, precisa do dinheiro dos impostos, mas Uber, Netflix,
I-food, entre outras grandes empresas, e até o dono do mercadinho do seu
bairro, aquele que não registra as compras, passando pelo Veio Asqueroso da
Havan, não querem nem ouvir falar em imposto. Dizem que é roubo. Mas sabe quem
é mesmo o ladrão?
Mas,
ninguém, nem estes empresários abomináveis seriam capazes de ter escravos, não
é verdade?
Quer
dizer, nem Dória, nem Moro, nem o Gustavo Lima que, dizem, demitiu toda a sua
banda e os re-contratou com metade do salário anterior, teriam escravos, hoje
em dia.
Mas
o Ratinho, sabe, aquele apresentador do SBT, que faz aquele programa de TV que
é uma merda e defende que se fuzile quem pensa diferente dele (e diferente do que prega o Capitão), sabe quem é?
Aquele
que o Enéas Carneiro, eterno candidato a presidente e que todos diziam ser
muito inteligente, mas que de fato tinha muitas ideias fascistas, sabe? Ele
chamava o Ratinho de senhor Rato. E realmente o Ratinho é um senhor rato. Acho que ninguém duvida.
Lembrou
quem é o Ratinho?
Ele
é pai do Governador do Paraná, então, esse mesmo. Ele teria escravos sem
problemas, ao que parece. Ouvi dizer que ele já foi condenado por ter
trabalhadores escravizados em suas terras, três vezes, isso mesmo, três vezes
ele foi condenado, sabia disso?
Então,
ninguém, fora o Ratinho, tem coragem de ter escravos. Ou estou sendo muito
otimista?
Será
que ainda existem pessoas tão asquerosas, desumanas, cidadãos brancos de bens que
teriam coragem de ter escravos no Brasil de hoje em dia?
Acho
difícil de acreditar, acho até que exageram quando dizem que em São Paulo está
cheio de trabalhador vivendo em regime de escravidão, são Chineses,
Colombianos, Bolivianos e até brasileiros. Ouvi dizer que esses trabalhadores escravizados costuram roupas que depois são vendidas em lojas muito chiques e compradas por descendentes dos senhores de escravos de antigamente. Parte desta história foi mostrada naquele filme fantasioso: "7 prisioneiros", da Netflix, você viu?
Netflix,
você sabe, é aquela multinacional bilionária que tem 19 milhões de assinantes
no Brasil e não paga impostos, não gera riqueza para o Brasil, só lucra, sabe
qual é, né?
Então,
liga lá na Netflix e veja 7 prisioneiros, filmado em São Paulo. Vão perceber
que é tipo um Game of thrones brasileiros, um O senhor dos anéis, ou seja, pura
fantasia, porque eu sei que no Brasil, fora nas terras do Ratinho, não existe
trabalho escravo. Repito, não tem escravos vivendo no Brasil, a não ser nas
fazendas do Ratinho e talvez nem lá, afinal de contas, se fosse verdade,
certamente ele estaria preso e teriam até jogado a chave fora ou o teriam
jogado no mar.
Imagina
se o Silvio Santos, por mais demente que esteja, permitiria que um escravocrata
apresentasse um programa em sua TV. Uma coisa é bajular general torturador,
presidente genocida, vender carnês para otários, digo, telespectadores e donas
de casa e outra bem diferente é aceitar um condenado por trabalho escravo em
seu canal, né não?
Afinal,
Sílvio Santos é povão, é homem de bem e sabe que quem é escravizado, nas
terras de ratinho ou nos apartamentos do Leblon (no Rio de Janeiro) ou no Jardim Luna (em João Pessoa), são povão e ele não iria
aceitar que o Ratinho fizesse isso com seu público ou iria?
Então
é isso, não tem trabalhador escravizado no Brasil e este é um texto de ficção.
Este texto foi adaptação do podcast MÚSICA PARA PENSAR e a versão original pode ser ouvida aqui:
Ernande Valentin do Prado é Enfermeiro, Sanitarisa e continua aí mandando Brasa.